sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Entenda a relação entre o corpo e as emoções

Apesar da necessidade de abrirmos espaços para uma vida espiritual mais rica e significativa, vivemos em um planeta e temos um corpo físico material e concreto. Todo nosso sentido de identidade está relacionado com o contato que temos com esse corpo, suas sensações e sentimentos, sua expressão, postura e movimentos. Se esse contato for frágil ou se não temos contato suficientemente com nossas expressões e sensações corporais, podemos dizer que não sabemos quem somos.
Nesse sentido, podemos chegar à conclusão que, se não fazemos contato suficiente com nossas emoções e nosso corpo, construímos um corpo sem vida e consequentemente, uma alma sem vida. Certamente um corpo vivo abriga uma pessoa feliz. Sabemos que possuímos um corpo que, por menor que seja nosso contato com ele, nos orienta no tempo e no espaço. Mas se não nos identificamos com esse corpo, inevitavelmente nos sentimos seres semimortos, mecânicos e alienados.
Nós que estamos encarnados percebemos a realidade somente através de nosso corpo. Quanto mais conectados estamos a esse corpo, mais vivos e felizes nos sentimos. Mas quando digo contato com o corpo, não me refiro ao contato com a imagem ou forma que esse corpo tem. Vivemos em uma sociedade narcisista, onde o culto à imagem está presente em toda e qualquer situação. Muitas pessoas tornam-se escravas dessa imagem, perdendo assim, totalmente, o contato real com seu corpo.
Refiro-me, sim, às sensações e sentimentos desse corpo, que é exatamente o que nos faz sentir que estamos vivos. Um corpo que estremece de medo, que se arrepia de prazer, que busca o contato e calor humano, e a fusão no momento de amor. Um corpo vivo e pulsante, repleto de ternura e realidade.
Digo realidade porque experimentamos a realidade do mundo somente através de nosso corpo, dos nossos sentidos. A ausência de sentimentos sinaliza um corpo morto, sem vida, encouraçado e defendido, sem contato com o mundo real.
Um corpo sem vida é um corpo infeliz, que abriga uma pessoa infeliz. Quando nos apegamos demasiadamente à imagem, nos afastamos da vida, do verdadeiro sentimento corporal, de nossa verdadeira identidade. Sem sabermos quem somos não podemos construir muita coisa. Quando estamos em contato com nosso corpo, percebemos mais as cores, os sons, nossa necessidade de calor e contato aumenta, e podemos começar a ter uma noção mais exata dos nossos limites.
E quando conhecemos esses limites, começamos a construir um caminho mais concreto em direção a nós mesmos e aos outros. Certamente faremos escolhas mais acertadas, sem corrermos tantos riscos de errar. Paramos de perseguir objetivos irreais, já que entramos em contato com a realidade de nós mesmos, e caminhamos em direção a sonhos atingíveis e consequentemente nos sentiremos mais íntegros e felizes.
Desde muito pequenos, somos persuadidos e envolvidos pela educação convencional a deixarmos de lado, por repressão, nossos sentimentos corporais. Enquanto matamos nossos corpos, matamos também a vida e a felicidade que nele se abriga, juntamente com nossa verdadeira identidade. Simplesmente deixamos de ser. Perdendo nossas sensações, perdemos a nós mesmos, passamos a nos sentir estranhos moradores de um corpo que negamos e acabamos por romper nosso contato com a realidade. Primeiro rompemos com a realidade do que verdadeiramente somos e, em seguida, com a realidade da vida.
Em estados mais agravados de falta de contato corporal, e consequentemente com a realidade dos sentimentos, há um desligamento do mundo e das pessoas e por muitas vezes desenvolvem-se estados de medo e pânico. Quando mais inteirados estamos de nossas sensações corporais, mais vivos e reais nos sentiremos.
Uma boa dica para você que quer começar a perceber as sensações de seu corpo, é a percepção de sua capacidade respiratória. Nós, ocidentais, não aprendemos a importância da respiração. Quando respiramos profundamente, quando permitimos que o ar penetre totalmente em nosso corpo, recebemos a vida plenamente.
Quando seguramos nossa respiração, impedimos a vida e todas as maravilhosas sensações que ela nos traz. Normalmente pessoas que seguram a respiração ou que possuem uma respiração curta, são pessoas que possuem um grande medo de sua própria intensidade, da intensidade da própria vida.
Não deixando o ar entrar, impedimos o contato com o medo, é bem verdade, mas também o contato com o amor. Negando sentimentos e sensações que nos atemorizam, negamos também as que nos realizam como seres humanos. E como podemos ser felizes negando nossa condição humana de estarmos encarnados em um corpo repleto de sensações?

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