quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Psicoteatro: método para o desenvolvimento de papéis e características pessoais, sociais e profissionais

Você é um bom profissional, bom amigo, bom marido, bom pai, bom amante, um ótimo sedutor? Talvez, nem tanto! Claro, nem poderia. A maioria de nós nunca teve a oportunidade de desenvolver esses papéis de maneira sistemática e planejada.

Psicoteatro

Estou desenvolvendo um conjunto de técnicas psicológicas-teatrais (“psicoteatro”) para ajudar os participantes a criar, desenvolver, aperfeiçoar e incorporar características pessoais, habilidades sociais e papéis sociais. Essas técnicas também ajudarão a alterar motivações e a combater inibições que impedem os desempenhos sociais desejados.
Cada um de nós desempenha vários papéis no dia a dia: profissional, amigo, pai, amante, sedutor, etc. Podemos aperfeiçoar esses papéis e desenvolver outros papéis que gostaríamos de desempenhar na vida real.
Existem várias características de personalidade que estão envolvidas na composição dos papéis sociais ou que dão um colorido pessoal para eles: desenvoltura, sociabilidade, eficiência, amorosidade, amistosidade, sex appeal, romantismo, carisma, segurança, autenticidade, honestidade, etc. Essas características podem ser aperfeiçoadas ou criadas através de técnicas psicoteatrais apropriadas.
Cada papel social é constituído por vários tipos de habilidades: ouvir ativo, falar de forma interessante, empatia, argumentar, persuadir, negociar, etc. Essas habilidades podem ser desenvolvidas através de treinamentos específicos.
Os desempenhos dos papéis sociais e as manifestações de características de personalidade dependem de motivações e inibições que lhes são relevantes. Essas motivações e inibições podem ser alteradas através de procedimentos terapêuticos.

Ausência de tratamento sistemático para desenvolver papéis sociais

Quase ninguém recebeu tratamento sistemático para desenvolver papéis sociais, características de personalidade e habilidades sociais. Poucas pessoas passaram por um trabalho psicológico sistemático que lhes ajudassem a entender e a lidar com suas motivações e inibições que afetam os seus desempenhos sociais.
O desenvolvimento de papéis sociais e dos seus ingredientes geralmente acontece de forma não programada e não planejada. Esse desenvolvimento geralmente acontece através da observação e imitação de pessoas que estão desempenhando papéis na vida real, na televisão ou em filmes. Ele também é influenciado pelos romances, pelas biografias e pelas descrições orais dos modos de agir e das características de personalidade de personagens que são admirados ou condenados.
Esses papéis e seus ingredientes também recebem certa dose de polimento através de elogios, críticas e sugestões quando são desempenhados na vida real.
Através desses tipos de aprendizagens assistemáticas, todos nós acabamos desenvolvendo e incorporando papéis, características pessoais, habilidades sociais, motivações e inibições para agir socialmente que deixam muito a desejar em termos de eficiência e satisfação.
Geralmente temos pouca de consciência dos aspectos da nossa atuação social que são eficientes ou ineficientes. As pessoas com quem interagimos não sabem bem o que fazer para ajudar melhorar a nossa atuação social e, quando sabem, muitas vezes preferem não fazer nada porque temem nos ofender, ou agem de forma punitiva, o que também não contribui muito para o nosso aperfeiçoamento.
Mesmo quando temos consciência das deficiências na nossa atuação social, ainda assim, é difícil superá-las porque não sabemos como produzir mudanças em nós mesmos.
Devido a essas dificuldades para tomar consciência na nossa forma de agir socialmente e para mudá-la, acabamos acreditando que  “somos assim”, “este é o nosso jeito de ser” e “não podemos mudar a nossa essência”.

Semelhanças e diferenças entre o psicoteatro e o teatro

Segundo, Irving Gofman (veja a citação na Nota, no final deste artigo), famoso estudioso da vida social, todos nós desempenhamos personagens, quase o tempo todo, em situações sociais. A vida social seria como um teatro, onde cada um finge que é um personagem e a plateia finge que acredita nele. As coisas feias ficam nos bastidores tanto no teatro como na vida real.
Algumas diferenças importantes entre o psicoteatro com o teatro são as seguintes:
-  No teatro, o ator e a plateia sabem que os participantes estão representado papéis e acontecimentos que não são reais. Eles sabem também que assim que o ator sair do palco ele vai se desvencilhar do papel que estava representando. No psicoteatro, o participante está tentando desenvolver um personagem para incorporá-lo ao seu jeito de ser na vida real.
- No teatro, o personagem e suas características são desenvolvidos para produzir um bom espetáculo e não, especificamente, para beneficiar o ator na vida real. Este benefício é o principal tipo de objetivo a ser alcançado no psicoteatro
- No psicoteatro, o participante é analisado psicologicamente desde o início. Por exemplo, essa análise tenta responder perguntas do tipo: porque o participante quer desenvolver um determinado personagem? Quais características ele gostaria que esse personagem tivesse? Quais facilidades e dificuldades são apresentadas pelo participante durante o desenvolvimento do roteiro e do personagem? Quais as facilidades e dificuldades foram apresentadas pelo participante para incorporar um determinado personagem e para representar as cenas? Quais são as facilidades e dificuldades dos participantes para transferir aquilo que ele treinou para a vida real?

Diferenças e semelhanças entre psicoteatro e terapias pela palavra

- A palavra é usada como ferramenta de análise e para promover mudanças tanto no psicoteatro como na maioria das terapias.
- O psicoteatro usa a representação como principal ferramenta de análise e de mudança, ao passo que a maioria dos outros tipos de terapias usa a conversa com estas mesmas funções.
- No psicoteatro, boa parte dos fenômenos psicológicos que são analisados são aqueles que aparecem devido às estimulações produzidas pelo processo de escolha dos personagens, produção dos textos para os diálogos, composição dos personagens, ensaios, atuação, pós-atuação e transferência para a vida real das habilidades treinadas. Nas terapias pela palavra, os fenômenos psicológicos analisados são aqueles foram estimulados pela memória de acontecimentos ou, quando muito, estimulados pela relação entre terapeuta e paciente.
- No psicoteatro, a atuação teatral, o roteiro e os diálogos ajudam os participantes a aperfeiçoar e substituir os seus modos de atuação social que eram ineficientes por outros modos que mais eficientes. A atuação e a análise psicológica das facilidades e dificuldades que surgiram durante a preparação das cenas, dos personagens e dos roteiros também ajudam a incorporar a nova maneira de agir e a adotá-los na vida real, no dia a dia.

Podemos mudar o nosso jeito de ser?

Podemos, sim. Na vida real mudamos drasticamente a nossa forma de agir pensar e sentir, quando isso é necessário. Podemos fazer mudanças muito drásticas acontecem em várias circunstâncias.
Essas grandes mudanças ocorrem várias vezes por dia, quando, por exemplo, mudamos de atividade (guiar, falar com um amigo, namorar, trabalhar, etc.),  mudamos de ambiente (local de trabalho, academia de esportes, balada, etc.) ou de interlocutor (falar com uma autoridade, com uma criança, etc.)
Mudanças mais abrangentes e duradouras ocorrem quando mudamos de cultura (fazer intercâmbio, migrar para outro país, etc.) ou mudamos radicalmente de função ou ambiente.
Quando mudamos de cultura ficamos cientes de muitos hábitos e valores que nos parecem “estranhos”. Depois de certo tempo, esses novos hábitos podem começar a parecer naturais. Depois de mais algum tempo, eles passam a fazer muito sentido para nós, deixamos de perceber o que estamos fazendo e nos sentimos bem agindo da nova forma.
Grandes mudanças também ocorrem quando entramos na pré-escola ou na faculdade, quando saímos de casa para morar em uma república, quando vamos morar com a amada. Alguns autores afirmam que esta última é uma das maiores mudanças repentinas que ocorrem na vida da maioria das pessoas: dormir na mesma cama com outra pessoa, cuidar da casa, cuidar da comida, morar em outro local, ter que se acomodar aos hábitos de outra pessoa, etc.
Portanto, não é correto dizer que não podemos mudar muito o nosso jeito de ser.

Ações programadas podem se tornar "naturais"

Quando falamos em um trabalho para criar ou aperfeiçoar o nossa maneira de atuar situações sociais, vários dos nossos interlocutores apresentam questões quanto à naturalidade ou artificialidade dos comportamentos que está sendo treinados.
Grande parte das nossas ações é aprendida através de esforço consciente e “artificialmente”. Depois, muitas delas vão se tornado automáticas e bastante inconscientes. Por exemplo, datilografar, guiar, falar outras línguas, andar, lecionar, representar geralmente são habilidades que exigem uma boa dose de esforço consciente na fase de aprendizagem. Depois vários aspectos dessas ações são automatizados e se tornam bastante inconscientes. A quantidade da prática e de instrução para automatizar uma ação ou uma estratégia para agir varia muito de caso para caso.
Guiar um carro é um bom exemplo. No início, temos que pensar em tudo que vamos fazer: ligar o carro, pisar na embreagem e no freio, colocar a primeira, soltar o freio de mão, etc. Depois de certo tempo, automatizamos nossas ações e passamos agir automaticamente, sem pensar no que estamos fazendo.
Algo semelhante também acontece nos campos dos valores e atitudes. No início, os nossos comportamentos são apresentados ou deixam de ser apresentados devido às suas consequências externas ou instruções específicas sobre como devemos agir. Depois de algum tempo, quando a nossa socialização é bem sucedida, podemos nos comportar ou deixar de comportar de uma determinada forma porque achamos que ela é certa ou errada, respectivamente. Os sociólogos denominam essa incorporação de valores de “introjeção”: passamos a sentir que determinada forma de agir, pensar e sentir é boa e legítima e que outras são erradas.
As nossas ações, quando apresentadas de acordo com certos padrões “fazem sentido” e não despertam a nossa atenção e consciência. Esse “sentido” é experimentado tanto por quem age como por quem presencia a ação. Por exemplo, um executivo de terno e pasta na mão que se desloque pulando em um pé só é muito chocante, a não ser que haja um motivo óbvio para essa forma de agir.
No psicoteatro acontece algo semelhante: ações são treinadas conscientemente e, depois, elas são automatizadas e se tornam inconscientes. Isso acontece, principalmente, quando elas melhoram os nossos desempenhos sociais e são apresentadas com fluidez e facilidade e nos trazem sucesso e satisfação.

Alguns papéis e características pessoais que poderão ser desenvolvidas através do psicoteatro

Em qualquer grupo de pessoas sempre há uma boa chance dos seguintes temas estarem presentes:
- Sociabilidade: gostar ou não gostar de relacionamentos sociais
- Timidez: tensão e inibição em situações sociais
- Autoestima: apreciação de si próprio. Como anda a sua autoestima?
- Imagem pública. Qual a imagem que estamos tentando projetar? Qual é a nossa imagem para as pessoas? (Serão realizadas medidas da autoimagem e da imagem pessoal de cada participante).
- Autoimagem: imagem que fazemos de nós mesmos
- Conversa eficiente: como age o bom falante e o bom ouvinte?
- Falar em público: características e habilidades de um bom orador.
- Autorrevelação: a revelação adequada de pensamentos e sentimentos é a cola dos relacionamentos sociais.

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